O processo de escrita, de grande talento, manifestada
por autores de génio que agregaram as primeiras palavras, tornaram-nos para
sempre admirados. Esses primeiros historiadores não se preocuparam somente com a
descrição dos destinos dos seus povos. Com o passar do tempo, aprenderam a rendilhar as narrativas e a descrever o
que não tinha acontecido, aprenderam a imaginar
melhor, a praticar e a melhorar essas liberdades.
Os mais ousados de todos criaram novas histórias sem qualquer semelhança com a
realidade. De facto, nada daquilo que contaram tinha acontecido. Os
lugares que descreveram, as informações detalhadas de acontecimentos, as relações
autênticas e pormenorizadas entre personagens, os sentimentos e o constante
jogo de emoções, permitiam aos historiadores iniciais orbitar em torno de
universos de imaginação apenas com a utilização dessa fantástica criação que eram
as palavras, átomos recém nascidos, entidades complexas e insubstituíveis para a
construção das narrativas e dos dramas.
Os olhos dos outros passavam por ali, pela carroça do
velho historiador recolector de palavras perdidas. O mais antigo autor da
região não se limitava a descrever o que via, ele foi dos primeiros a arriscar e
a compreender as vantagens de deixar de ser submisso à realidade que oferecia imagens
mentirosas. Os seus olhos eram mapas sem regras, janelas que decidia abrir ou manter
fechadas, jardins, oceanos, luz de mil faróis, eram todas as palavras que escolhia
e encontrava, e todas as visualizações abstratas sugeridas pela alma imaginativa
do idoso e sábio criador.
Foi ele quem descobriu Efémera e a guardou. Só ele sabia
como a iria usar depois de a analisar e compreender. Se não tivesse abandonado o
trilho poderia não a ter encontrado a tempo de a proteger da parte obscura do percurso,
do frio da madrugada e de historiadores menos sensatos. Viu Efémera intacta e plena
de cor, e logo imaginou as geometrias impossíveis que ela lhe permitiria ajudar
a criar. A corporalidade e sonoridade ímpar da jovem palavra seriam imprescindíveis
para tentar dar uma vida nova às suas visões de narrador imaginativo e paradoxal,
e ela passou o resto do dia colada dentro da mente do historiador.
Sem comentários:
Enviar um comentário