Um nobre historiador tinha como hábito utilizar uma
estrada antiga para fazer o percurso entre duas das mais importantes povoações da
província. O velho caminho raramente era utilizado por outros viajantes, mas ele
preferia-o aos outros pois assim podia atravessar as cordilheiras e observar as
paisagens que mais admirava. Uma longa reta dessa estrada passava perto do sopé
da ravina por onde Efémera desceu. A temperatura tinha arrefecido bastante e o
corpo da pequena palavra adormecida tremia com movimentos repetitivos. Essa
agitação teve o condão de chamar a atenção do viajante que dela se acercou. Com
todo o cuidado, pegou na jovem e colocou-a no interior da sua carroça de
madeira, junto a muitas outras palavras adormecidas que ele também já tinha
resgatado ao longo da jornada. Depositou-a num cobertor de lã perto da portada
do veículo, no meio de mais de uma centena de palavras, e registou o seu nome em
grossos cadernos forrados a cabedal, função primordial dos nobres historiadores
daquele lugar. O homem também guardou a arma e a sacola dos mantimentos de
Efémera, e depois tapou-a com o belíssimo lenço de seda que os irmãos rouxinóis
lhe tinham oferecido.
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