quinta-feira, 26 de maio de 2016

08 - O historiador



Um nobre historiador tinha como hábito utilizar uma estrada antiga para fazer o percurso entre duas das mais importantes povoações da província. O velho caminho raramente era utilizado por outros viajantes, mas ele preferia-o aos outros pois assim podia atravessar as cordilheiras e observar as paisagens que mais admirava. Uma longa reta dessa estrada passava perto do sopé da ravina por onde Efémera desceu. A temperatura tinha arrefecido bastante e o corpo da pequena palavra adormecida tremia com movimentos repetitivos. Essa agitação teve o condão de chamar a atenção do viajante que dela se acercou. Com todo o cuidado, pegou na jovem e colocou-a no interior da sua carroça de madeira, junto a muitas outras palavras adormecidas que ele também já tinha resgatado ao longo da jornada. Depositou-a num cobertor de lã perto da portada do veículo, no meio de mais de uma centena de palavras, e registou o seu nome em grossos cadernos forrados a cabedal, função primordial dos nobres historiadores daquele lugar. O homem também guardou a arma e a sacola dos mantimentos de Efémera, e depois tapou-a com o belíssimo lenço de seda que os irmãos rouxinóis lhe tinham oferecido.



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