sábado, 21 de maio de 2016

02 - Efémera





Aconteceu este nascimento, desenho abstrato em branca nuvem, página montanha que a viu nascer. A palavra outrora adormecida, inerte, assumiu com bravura os primeiros instantes de existência. Efémeras houve que viveram assim tempo nenhum, por isso o nome lhe ficou tão bem. Efémera não negou o sentimento de liberdade com que se construiu a sua primeira rotina de vida, soltou as asas e esvoaçou pelo éter dissolvente rasando mil nuvens esbranquiçadas. Atravessou névoas geladas que cobriam os altos cumes da cordilheira que a viu nascer e perdeu-se no meio daqueles silêncios embrutecidos, primários, apaixonantes.
- A estrada dos céus é serena. Sou Efémera, palavra acabada de nascer, inventada, gritada e escrita em parte incerta, atrevo-me a caminhar. Finjo que existo, sou talvez cinza soprada pelo vento, carbono penitente parido pelas chamas de um fogo improvável, um quase delírio, Efémera nascida de labaredas perpétuas que ninguém consegue vislumbrar.

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