Aconteceu este nascimento, desenho abstrato em
branca nuvem, página montanha que a viu nascer. A palavra outrora adormecida,
inerte, assumiu com bravura os primeiros instantes de existência. Efémeras houve
que viveram assim tempo nenhum, por isso o nome lhe ficou tão bem. Efémera não
negou o sentimento de liberdade com que se construiu a sua primeira rotina de
vida, soltou as asas e esvoaçou pelo éter dissolvente rasando mil nuvens
esbranquiçadas. Atravessou névoas geladas que cobriam os altos cumes da
cordilheira que a viu nascer e perdeu-se no meio daqueles silêncios
embrutecidos, primários, apaixonantes.
- A estrada dos céus é serena. Sou Efémera, palavra acabada
de nascer, inventada, gritada e escrita em parte incerta, atrevo-me a caminhar.
Finjo que existo, sou talvez cinza soprada pelo vento, carbono penitente parido
pelas chamas de um fogo improvável, um quase delírio, Efémera nascida de
labaredas perpétuas que ninguém consegue vislumbrar.
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