sábado, 21 de maio de 2016

03 - Sangue




A jovem palavra bem cedo começou a pensar. A vida iniciou-se no limiar da ilusão. Outras como ela se perderam nestes inícios titubeantes tão complexos. São antigas formas de criação, lamentos perpétuos que rasgam a inexistência com o poder avassalador de mil tufões. Outra seria se não tivesse acontecido, do nada esperançoso veio ao mundo, Efémera, doce e quente, em forma de canções escutou o que desconhecia, e o sangue fervilhou de imediato nas veias minúsculas do seu corpo acelerando-lhe o microscópico coração. Bem cedo o líquido viscoso a invadiu por dentro assumindo o controlo total das vísceras da palavra, os braços e as pernas ficaram dormentes e ela pensou reconhecer aquele lugar onde passeava.

- Magnífica a paisagem que se estende perante mim. Sou viajante solitária nestas paragens, contudo, mesmo sabendo que aqui nunca antes fui iluminada, reconheço muitos detalhes daquilo que vejo, sei da lua vigilante que ainda se pode observar apesar do dia ter nascido, sei do travo adocicado deste ar, sei todos estes aromas e odores, sei que o sei, porquê, não sei.

Tinha feito um mês exato naquele dia desde que uma tempestade avassaladora passou por ali, um sobressalto de poder devastador transformou os sonhos dos habitantes do vale alterando-lhes o futuro que passou a ser incerto.


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