Foi numa manhã igual a tantas outras
Vozes cantaram palavras outrora esquecidas
E tudo teve o seu início
Pequenos indícios, detalhes irrelevantes
A ordem natural de todos os princípios fugidios
Deriva insana de sonhos
realidade sem sentido
Palavras seguiram os universos de outros poetas
Agitadas
Não sei porque fugiram de mim
Para bem longe de mim
E eu durmo acordado, transformo-me, através dos silêncios
ensurdecedores
Naquele lugar indesejado, vazio, perturbador
São tantos os outros que ocupam o meu lugar
Que gente é esta que ocupa o meu lugar e me usurpa as
palavras?
Gente de olhar incómodo, vazio, igual ao meu
Teias castradoras de perpétuos enganos
Perdidos, falamos de coisa nenhuma
Observamos reflexos escamosos de peles vítreas,
laminadas, ameaçadoras
Foi numa manhã igual a tantas outras
Vozes cantaram palavras outrora esquecidas
E tudo teve o seu início
Navego por mares e marés deste oceano vasto e profundo
Mergulho, como animal marinho que sou
Procuro recordar
Mais uma história chegará desse local longínquo
Onde são paridas todas as palavras
Deixarei de chorar pelas vidas de todos aqueles que
por aqui
poderiam ter acontecido
atores de universos irreais
viajantes bailarinos de palcos verdes e azuis
habitantes desta mesma casa invisível
tão difícil de
descrever
Foi numa manhã igual a tantas outras
Surgiste ao longe
Vozes cantaram palavras outrora esquecidas
E eu em ti me vi e revi
E tudo teve o seu início
Executarei as palavras encarceradas em mim
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