domingo, 5 de junho de 2016

00 - Manhã





Foi numa manhã igual a tantas outras

Vozes cantaram palavras outrora esquecidas

E tudo teve o seu início



Pequenos indícios, detalhes irrelevantes

A ordem natural de todos os princípios fugidios

Deriva insana de sonhos

realidade sem sentido



Palavras seguiram os universos de outros poetas

Agitadas

Não sei porque fugiram de mim

Para bem longe de mim

E eu durmo acordado, transformo-me, através dos silêncios ensurdecedores

Naquele lugar indesejado, vazio, perturbador



São tantos os outros que ocupam o meu lugar

Que gente é esta que ocupa o meu lugar e me usurpa as palavras?

Gente de olhar incómodo, vazio, igual ao meu

Teias castradoras de perpétuos enganos

Perdidos, falamos de coisa nenhuma

Observamos reflexos escamosos de peles vítreas, laminadas, ameaçadoras



Foi numa manhã igual a tantas outras

Vozes cantaram palavras outrora esquecidas

E tudo teve o seu início



Navego por mares e marés deste oceano vasto e profundo

Mergulho, como animal marinho que sou

Procuro recordar

Mais uma história chegará desse local longínquo

Onde são paridas todas as palavras

Deixarei de chorar pelas vidas de todos aqueles que por aqui

poderiam ter acontecido

atores de universos irreais

viajantes bailarinos de palcos verdes e azuis

habitantes desta mesma casa invisível

 tão difícil de descrever



Foi numa manhã igual a tantas outras

Surgiste ao longe

Vozes cantaram palavras outrora esquecidas

E eu em ti me vi e revi

E tudo teve o seu início



Executarei as palavras encarceradas em mim

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