O Castelo onde sonhamos
fica entre a terra e o céu, possui um fosso imenso que marca a distância que
isola mais do que aproxima na direta proporção da ponte levadiça que permite
alcançar o espaço interior onde o som das palavras se refletem, desentendidas
de mim. Lá dentro há bruxedos incompletos a infligir maus tratos continuados, e
a sensação de desconforto é transferida para os corpos que nos pertencem.
Permaneço insatisfeito,
o mistério do meu universo é impossível de desvendar. Sento-me a teu lado e
aproximo-me de ti, mais do que ontem. Estamos mais próximos um do outro, para
renascermos, subitamente, insatisfeitos pela distância que nos separa.
Penso em nós antes da
chegada do inverno, os pensamentos mitológicos guiam a esperança dos deuses que
em mim habitam, figuras que não são minhas, e o ceticismo derrete-se
insatisfeito num poço de saudade. A muralha do castelo ficará soterrada na
antiguidade da sua beleza perene, com a lua mais alta, a maior de todas as
luas, a iluminar essa parede impossível que nos transformará.
As leituras sem razão
nem lógica pertencem a um futuro impossível ao qual talvez nunca pertenceremos.
O desgosto aumenta por ainda não sermos as pessoas que desejamos. A natureza
improvável desse sonho inconcebível é o que ambicionamos alcançar. Estou com
sono, com tanto sono de nós, aposto que dormiremos na mesma cama esta
madrugada, lançando ao vento as sementes que nos foram ofertadas por sobre as
matérias fúteis de todos os dias.
O tempo corre e o sonho
também, e o futuro incerto fica afastado, pobre, sensível e antigo.
Dispo-me e repouso cada
vez menos.
Acordo a meio da noite
sem conseguir voltar a adormecer, perco a sensibilidade do corpo, digo adeus ao
peso que deixei de possuir. Volto a ser recebido por este chão velho de madeira
onde passeio os pés descalços e gelados. Subitamente a guerra termina e o meu
castelo destruído e sem esperança mais não é que um amontoado de granito
angustiado.
Quero ser capaz de
sonhar com um futuro menos insuportável, mais global e definido, um imenso
conforto de coisas nítidas e carinhosas, coisas não vagas, coisas menos
secretas que o tédio moribundo que nos esmaga, sufoca e aprisiona.
Fingimos até o tédio
que sentimos ao fingir.
Fingimos tanto que o
fingimento se tornou mais verdadeiro que o próprio ato de sentir o tédio
mentiroso.
O que é verdade é o que
escutamos ao fingir.
Somos iguais, todos
iguais, todos oprimidos nos mesmos pensamentos repetidos e perpetuados até à
náusea.
Celebra-se o glorioso
cinzentismo e o negrume da nulidade onde bebemos as fraquezas destes seres
automáticos em que nos transformámos.
Sonho com os sapatos
calçados, muito apertados. Oprimem a respiração e a naturalidade com que as
palavras deveriam nascer. Ergo a cabeça para obter a imagem correta na leitura
tardia que faço das palavras novas que nascem por aqui. Mago, a tua linguagem
talvez seja incompreensível, os teus sentimentos talvez ainda estejam por
definir… mas os teus universos participam um cansaço semelhante ao meu mal-estar,
e o oxigénio começa a faltar-me por cima de tanta liberdade ainda por
acontecer.
Onde poderemos
encontrar o princípio do fim?
Liberdade e
imperfeição, cansaço, tédio, velocidade, aborrecimento do mundo, formas
absolutas de aspirar a um método de escrever onde as sensações mais carnais e
instintivas se cumpram, não apenas em privado, não apenas em sonhos
inexistentes, mas principalmente na dor suprema de nos gravarmos em palavras
puras de dimensão imperecível.
O muro do meu castelo
impede-me de avançar, algema granítica e controversa, fala comigo, acorda-me, …
mas como se ainda não me fui deitar? Só existirei se conseguir derrotar esta
força que me tolda os movimentos e me impede de ficar mais azul do que a água
cristalina do lago que espelha o céu.
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