Quanto esforço, quanto
tempo perdido, quanta incerteza a cada estado de alma, dolorosa incerteza
possuir esta certeza absoluta de escrevermos mal. Esforço inglório, realização
inferior e grotesca dramatização. Eu ouço-Te Mago, e agora conheço a Tua
tragédia. Restam as crianças porque dizem como sentem e não como se deve
sentir, definem sem rodeios toda a sua literatura.
Dizer, saber dizer, saber
como dizer e o que dizer, saber existir pela voz da escrita, poder voltar a ser
uma criança à beira de chorar, a mesma criança literária que tão bem definiu a
sua espiral.
Tudo isto é quanto a vida
vale.
O que resta são bichos,
gente a remexer-se como bichos quando se levanta uma pedra, que bela esta Tua
imagem no meio de tanto desassossego.
- Exato, devolveste-me a lembrança desse Pedregulho abstrato do céu azul
sem sentido!
Eu e o Mago sorrimos
debaixo deste céu cinzento sem sentido, salvação ilusória e momentânea da
sordidez de sermos ou já não sermos… pois se apenas na arte gozamos e entendemos
tudo que nos delicia sem que seja ( de verdade ) nosso – “o rasto da passagem, o sorriso dado a outrem, o poente, o poema, o
universo objetivo.”
Eu e o Mago sorrimos,
como dois patetas, debaixo deste céu cinzento sem sentido, salvação ilusória e
momentânea da sordidez de sermos ou já não sermos. Eu e o Mago ainda lá estamos
a sorrir, como dois perfeitos patetas.
- Tu, que sabias que na
vida transitória nada eras, e escreveste um dia que podias gozar a visão do
futuro ao leres essa página, pois efetivamente a escreveste, e podias
orgulhar-te, como de um filho, da fama que terias, porque, ao menos, terias com
que a ter.
- Sim, e também escrevi que a glória não é uma medalha, mas uma moeda, e
para os valores maiores não há moedas: são de papel e esse valor é sempre
pouco.
Para que nascem as
palavras? Será mais sensato perguntar para que nascem e não como nascem. Sim,
julgo ser mais correto colocar a questão desta maneira, pois se apenas aos que
já não estão sabemos ensinar as verdadeiras regras de viver.
O meu novo sonho é poder
vir a ser esse incompreendedor que o Mago referiu no meio das suas palavras.
Regressei aqui, a este
cinzento menos pálido da manhã. Aquecido por um sol menos envergonhado, engreno
no trabalho do costume sem companhia, só, solitário, pintado pelas cores
alegres da música jazz que passa na rádio. Regressei a este futuro do meu Mago,
o mesmo futuro em que Ele pensava, com deleite triste, existir alguém que o
pudesse “compreender”, essa gente seriam os seus, a família verdadeira onde
nasceria e seria amado, família que só o pôde compreender enquanto efigie e
quando a afeição já não Lhe compensava, pois se morreu…
- Diz-me como nascem as
palavras, nesta manhã entardecida.
- Sim, nesta manhã em que nos vemos, a hora da dolência aproxima-se a
passos largos, mas foi franca e proveitosa a conversa até este instante em que
a inconsciência nos separa e a realidade volta a roçar em nossos corpos
inúteis.
Até
breve,
…
até já!
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